[PT-BR/EN] CRÍTICA DE FILME: “O Auto da Compadecida” (2000)

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image.pngIMDb


[PT]

Sinopse: Quando uma dupla de amigos sertanejos bastante pobres (João Grilo e Chicó), que tem como suas principais características a covardia e a mentira, aplicam diversos golpes na cidade onde vivem, elas precisam lidar com todas as consequências dos seus atos. Tudo fica pior quando um grupo de cangaceiros muda à vida dos moradores.

O cinema brasileiro tem uma história de altos e baixos (infelizmente, mais baixos do que altos), mas no meio de tantas inconstâncias, existem algumas preciosidades que precisam ser ressaltadas, e este filme é uma delas. Aqui reside uma das melhores produções que o Brasil já fez, e que até então, se mantém intacta como uma das comédias mais incríveis que já ganharam as telonas. Esse status não vem apenas pela sua trama em si (que isoladamente já é excelente), mas principalmente pela forma como todo desenvolvimento de cada elemento narrativo apresentado vai sendo construído.

image.pngBastidores

Baseado originalmente em uma peça teatral (divida precisamente em três atos) escrita pelo genial Ariano Suassuna no ano de 1955, o filme aconteceu através de um recorte da série de televisão que estreou no ano de 1999, condensando a trama em dentro de uma temática que transcendeu o universo da televisão e migrou para o universo do cinema. As mudanças feitas não descaracterizam a estória original, e o trabalho de edição foi muito eficiente por conseguir abraçar a essência do material original mantendo todas as suas características principais, resultando em um filme sensacional.

Na trama, o telespectador acompanha as aventuras de João Grilo e Chicó, dois amigos inseparáveis pelas circunstâncias da vida difícil, e que precisam usar suas habilidades moralmente contestáveis para conseguir sobreviver diante de tudo o que acontece a eles diariamente. Cercados pela pobreza e pela injustiça que assola à vida no sertão, a dupla precisa encontrar meios de continuar sobrevivendo, e para isso eles precisam aplicar golpes nos moradores. Esse estilo de vida acaba trazendo muitas confusões para eles, que precisam lidar com diversos tipos de problemas em diferentes esferas.

image.pngCulturadoria

O maior dos problemas que eles precisam enfrentar acaba sendo uma invasão de temidos cangaceiros, que chegando à cidade, instalam o terror entre os moradores. Pensando em aplicar um golpe nos forasteiros, a dupla de amigos tem uma ideia arriscada, e por causa de um problema na execução do plano, um deles acaba sendo assassinado, entrando assim em um mundo que está além da Terra e do Céu. Em uma espécie de “purgatório”, outros moradores assassinados acabam se encontrando, e precisam enfrentar os seus próprios pecados na frente de uma santa e do próprio demônio.

Dentro dessa “dicotomia” (que acaba mesclando o mundo real do mundo religioso), o roteiro mergulha dentro de uma temática bifurcada que traz para dentro de si subtemas extremamente importantes (como a dualidade entre o certo e o errado diante de uma percepção que nos oferece um outro prisma sobre até onde é possível aceitar alguns atos ruins porque existem outras coisas piores acontecendo), e que acabam ganhando um destaque central dentro da trama pela importância que cada subtexto acaba carregando. O filme literalmente joga muitas temáticas necessárias sobre à mesa.

image.pngAventuras na História

image.pngTerra

Tudo nesse filme cai como uma luva. A direção do Guel Arraes é muito precisa e inteligente, criando uma imersão com um poder de acesso altíssimo para quem está do outro lado da tela. Literalmente, o telespectador consegue entrar na trama sem precisar fazer maiores esforços porque mesmo tendo um enredo simples (dentro de um contexto geral), os acontecimentos são bem conectados (ainda que diversos) e isso acaba estabelecendo uma fluidez criativa repleta dos mais diferentes tipos de elementos cinematográficos. O roteiro é extremamente sagaz, engraçado e acidamente crítico.

No elenco, nomes importantes do cinema brasileiro como Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro, Digo Vilela, Luís Cardoso, Denise Fraga. Todos eles (sem absolutamente nenhuma exceção) entregam performances de alta qualidade. Seus respectivos personagens são extremamente bem construídos dentro de uma perspectiva bastante marcante (tanto em termos visuais quanto em termos comportamentais), e o modo como eles são retratados nas telas é algo muito característico do cinema brasileiro. O elenco de apoio também merece destaque devido à sua relevância.

image.pngMais Goiás

O Auto da Compadecida é bem mais do que apenas um filme de comédia, é um verdadeiro patrimônio cinematográfico regional que o Brasil guarda na sua história. Explorando ricamente todo os seus contextos com excelentes diálogos e os cenários que praticamente tem uma “vida própria” (tamanha é a importância dele para à trama, evidenciando assim toda à sua qualidade técnica, que mesmo simples é bem funcional), esse projeto é um marco atemporal, que inspirou e continua a inspirar outros filmes com temática similares. Entre o certo e o errado, o filme te faz pensar no que há no meio disso.


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[EN]

MOVIE REVIEW: “A Dog's Will” (2000)

Synopsis: When a couple of very poor country friends (João Grilo and Chicó), whose main characteristics are cowardice and lies, carry out several scams in the city where they live, they have to deal with all the consequences of their actions. Everything gets worse when a group of bandits changes the lives of the residents.

Brazilian cinema has a history of ups and downs (unfortunately, more downs than ups), but in the midst of so many inconsistencies, there are some gems that need to be highlighted, and this movie is one of them. Here lies one of the best productions that Brazil has ever produced, and which until then, remains intact as one of the most incredible comedies that have ever hit the big screen. This status does not only come from its plot itself (which in isolation is already excellent), but mainly from the way in which the entire development of each narrative element presented is constructed.

Originally based on a theatrical play (divided precisely into three acts) written by the brilliant Ariano Suassuna in 1955, the movie took place through an excerpt from the television series that debuted in 1999, condensing the plot into a theme that transcended the universe of television and migrated to the universe of cinema. The changes made do not distort the original story, and the editing work was very efficient as it managed to embrace the essence of the original material while maintaining all its main characteristics, resulting in a sensational movie.

In the plot, the viewer follows the adventures of João Grilo and Chicó, two friends who are inseparable due to the circumstances of their difficult lives, and who need to use their morally questionable skills to survive in the face of everything that happens to them daily. Surrounded by poverty and the injustice that plagues life in the backlands, the duo needs to find ways to continue surviving, and to do so they need to attack the residents. This lifestyle ends up causing a lot of confusion for them, as they have to deal with different types of problems in different spheres.

The biggest problem they need to face ends up being an invasion of feared bandits, who, arriving in the city, create terror among the residents. Thinking about carrying out a coup against the outsiders, the pair of friends come up with a risky idea, and because of a problem in executing the plan, one of them ends up being murdered, thus entering a world that is beyond Earth and Heaven. In a kind of “purgatory”, other murdered residents end up finding themselves, and need to face their own sins in front of a saint and the devil himself.

Within this “dichotomy” (which ends up mixing the real world with the religious world), the script dives into a bifurcated theme that brings into itself extremely important subthemes (such as the duality between right and wrong in the face of a perception that offers another perspective on how far it is possible to accept some bad acts because there are other worse things happening), and which end up gaining central prominence within the plot due to the importance that each subtext ends up carrying. The movie literally throws many necessary themes onto the table.

Everything in this movie fits like a glove. Guel Arraes' direction is very precise and intelligent, creating an immersion with a very high power of access for those on the other side of the screen. Literally, the viewer can get into the plot without needing to make greater efforts because even though it has a simple plot (within a general context), the events are well connected (although diverse) and this ends up establishing a creative fluidity full of the most different types of cinematic elements. The script is extremely witty, funny and acidly critical.

The cast includes important names in Brazilian cinema such as Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro, Digo Vilela, Luís Cardoso, Denise Fraga. All of them (with absolutely no exceptions) deliver high-quality performances. Their respective characters are extremely well constructed within a very striking perspective (both in visual and behavioral terms), and the way they are portrayed on screen is something very characteristic of Brazilian cinema. The supporting cast is also worth highlighting due to its relevance.

A Dog’s Will is much more than just a comedy movie, it is a true regiona cinematographic heritage that Brazil has in its history. Richly exploring all of its contexts with excellent dialogues and scenarios that practically have a “life of their own” (such is its importance to the plot, thus highlighting its technical quality, which even though simple is very functional), this project is a timeless landmark, which inspired and continues to inspire other movies with similar themes. Between right and wrong, the movie makes you think about what's in between.


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5 comments
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Lembro muito desse filme, sempre gostei e me diverti muito ao vê-lo algumas vezes.

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O segundo filme está vindo aí (dezembro), mas não acho que será tão bom quanto o primeiro.

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Eu vi o trailer e também não senti muita confiança não, parece que não será do mesmo nível do primeiro, mas, vamos ver, somente quando olharmos para ter certeza se vai ser bom ou não rs